sábado, 29 de outubro de 2011

O Púlpito e o Punhal

Texto extraído do blog da Editora Fiel - http://www.blogfiel.com.br/2011/10/o-pulpito-e-o-punhal.html

Cleyton Gadelha

Reconhecendo que é nosso dever, como cristãos, estarmos do mesmo lado, permito-me, entretanto, apontar o dedo contra nós mesmos. Sim, precisamos que alguém, afinal, diga que as armas que estão matando nossa identidade foram gestadas por nossa tolerância autofágica.

É desesperadora a angústia de precisar se agarrar à tentativa de fazer a igreja permanecer em moldes biblicamente concebíveis.

As últimas três décadas foram devastadoras para a igreja no Brasil. À medida que a igreja ia sendo transformada de protestante em "evangélica", as estatísticas do IBGE embriagaram nossa percepção. Quase ninguém se dava conta que o processo estava apodrecendo a Igreja por dentro. Os fatores que viabilizavam tal crescimento não eram, nem de longe, legítimos como práticas cristãs.

Dos "dentes de ouro" à "Marcha prá Jesus" parte de nossa herança foi extraviada. Sem reflexão teológica, a igreja caiu nas mãos de celebridades da música gospel e de líderes carismáticos que invadiram a mídia, assumindo de forma usurpada, o direito de falarem em nome da Igreja.

A face pública do movimento chamado evangélico parece, como diria Olavo de Carvalho, "uma gigantesca máquina de desentortar banana". Visibilidade impressionante, mas completamente esvaziado de significado.

O que está aí é estatisticamente impressionante, mas não pode ser celebrado como cristianismo, porque não o é. Um "cristianismo" que não produz impacto moral sobre a sociedade. Um cristianismo que, várias vezes, fica aquém da moral pagã, não foi, evidentemente, esculpido pelo poder santificador do Espírito Santo.

Por outro lado, as denominações históricas, que deveriam ter ancorado o cristianismo no porto da reforma protestante, praticaram crime ainda maior, quando entregaram suas escolas teológicas nas mãos dos liberais.

Seminários protestantes pagaram salários a professores liberais que corromperam a fé dos nossos jovens que, indefesos,foram entregues nas mãos deles para serem "bultmanntizados", "tilichizados"etc. Esses jovens, depois de quatro anos, eram feitos pastores e, usaram nossos púlpitos como arma letal de desconstrução do cristianismo bíblico. "Quem apóia lobos, sacrifica as ovelhas". Por isso a história não nos tem por inocente.

Muitas igrejas morreram, e o punhal que as matou foi um púlpito pejado de má teologia.

Batistas, Presbiterianos e todos os históricos, precisamos fazer um "mea – culpa" porque a resposta dos nossos pais ficou muito aquém da necessidade da igreja e, nós, não somos melhores do que os nossos pais, portanto chorar é também nossa parte.

Como Deus sempre tem que salvar o seu povo, porque se dependesse de nós, seu plano seria de todo extraviado, mais uma vez está Ele vindo em nosso socorro.

É encorajador ver algo novo, burbulhante, se movendo como um broto emergindo de um toco queimado. Há uma força que não se deterá por ser pequena. O Senhor já começou sua reação. Há um vigoroso despertamento das igrejas do Brasil rumo às Doutrinas da Graça.

O mote dos anos 70/80 era: Doutrina não! Doutrina divide! Esse bordão enganoso está sendo substituído no coração de um remanescente que começa a bradar nos púlpitos e nas redes sociais, em acampamentos e em conversa de mesa: Doutrina sim! Teologia Sim! E que sejam aquelas velhas doutrinas que mudaram a Igreja e o mundo no século 16. Como disse Marcos Granconato: "Teologia é como vinho, quanto mais velha melhor".

Palavras como Wittenberg, Genebra, Dort, Westminster, Puritanos, Credo, impronunciáveis há alguns anos, compõem agora a falação da galera jovem e dos veneráveiss anciãos de nossas igrejas. A hora da virada chegou!
Deus está visitando a igreja no Brasil para reesculpir sua face com o cinzel da virilidade bíblica e da pujança dos reformadores que batalharam pela fé dos santos sem jamais desfalecerem.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nós os vagotônicos - Vinicius de Moraes

“Nós, os vagotônicos, de quando em vez precisamos de férias, porque senão se nos evapora a substância. Que os leitores me perdoem, a mim e a meu vago simpático, por essa deserção provisória, preenchida, de resto, com grande linha por Jorge Vargas. Já estou de novo bem, obrigado. De volta a este retângulo, eu quero em primeiro lugar agradecer (não tenham medo que não vem discurso…) a todos os vagotônicos pela assistência moral, bons conselhos e receitas que me deram – especialmente a minha amiga Araci de Almeida, rainha dos vago-simpáticos, e o meu amigo Fernando Lobo que fez um samba lindíssimo sobre Noel, e que tem teorias próprias sobre a disfunção, as quais põe em prática com o maior gosto e proveito.

Aliás, por falar em vagotonia, eu descobri no decorrer dessa minha última crise que nós, os vagotônicos, formamos uma impressionante maçonaria. A solidariedade entre os membros da seita é admirável. Estive, nessa ultima semana, com vários grupos, e ao anunciar-lhes eu que me achava no “auge da vagotonia” (pois todo vagotônico que se preza não só tem o maior orgulho de sê-lo e demonstrá-lo, como sempre exagera ao Maximo o seu estado), ganhava imediatamente a simpatia dos correligionários presentes, terminando por formarmos um bloco coeso contra os pobres mortais que têm o vago-simpático perfeito.

- Como é, querida? Como vai essa vagotonia?- Ah, meu filho, já nem sei mais… E você?- No fundo do poço.- Quer dizer que você não esta aqui hoje?

- Ah, eu nem sei mais onde é que estou…

E assim por diante, tudo entrecortado por longos silêncios, durante os quais a pessoas cai do alto de arranha-céus bem devagarinho, é enterrada viva, despenca de elevador, some terra adentro por um buraco súbito que se vagotoniza, pois todo vagotônico sobe como um foguete, até as regiões siderais, se perde nas catacumbas de Roma, se afoga na banheira, porque uma paralisia repentina não permite que se feche a torneira, sobe e desce degraus inexistentes, fica quente, fica frio, fica quente de novo, se ruboriza, empalidece, cai numa delinqüência, ouve o coração bater na ponta do dedão do pé, sua nas mãos, tem a boca seca – enfim, a felicidade completa.

Não me queiram mal por essa digressão. O fenômeno é importante, pois ele pode influir na crônica, e eu a quero isenta. Aliás, essa semana cabe falar de vagotonia, pois vai entrar em cartaz essa grande vagotônica que é Bette Davis – e isso, meus amigos, vai ser uma delicia. Vai ser uma verdadeira delicia.”

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Rookmaaker - Palavrantiga


Espiritualidade com inteligêcia...sim,é possível! Palavrantiga tá aí pra mostrar!




Eu leio Rookmaaker, você Jean Paul Sartre
A cidade foi tomada pelos homens.
Na cidade dos homens tem gente que consegue ler,
mas os outros estão néscios pra Ti.

Eu canto Keith Grenn, você canta o que?
A cidade está cheia de sons.
Na cidade dos homens tem gente que consegue ouvir,
mas os outros estão surdos pra Ti.

Vem jogando tudo pra fora.
A verdade apressa minha hora.
Vem revela a vida que é nova.
Abre os meus olhos agora.

Eu fico com a escola de Rembrandt você no dadaísmo de
Berlim.
A cidade está cheia de tinta.
Na cidade dos homens tem gente que consegue ver,
mas os outros estão cegos pra Ti.

Eu monto o paradoxo no palco. Você anda zombando da
Cruz.
A cidade está cheia de atores.
Na cidade dos homens tem gente que consegue dizer,
mas os outros estão mudos pra Ti.

Vem jogando tudo pra fora.
A verdade apressa minha hora.
Vem revela a vida que é nova.
Abre os meus olhos agora.

Toda vez que procuro aqui algo pra ler, ouvir, olhar e
dizer,
Senhor sabe o que eu quero.
Não me furto a certeza: és a Vida que eu quero.